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Pistolas 9mm dominam apreensões em SP e acendem alerta sobre o poder de fogo nas mãos do crime

Pistolas 9mm dominam apreensões em SP e acendem alerta sobre o poder de fogo nas mãos do crime

As pistolas calibre 9 milímetros se tornaram o símbolo da nova ameaça que circula pelas ruas paulistas. Dados recentes do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal, mostram que mais da metade das armas de uso restrito apreendidas em São Paulo são desse tipo — preferido por criminosos e facções por sua letalidade, versatilidade e facilidade de ocultação.

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Desde julho de 2023, quando o governo federal restringiu novamente o uso das 9mm, 22 armas desse tipo já foram apreendidas no estado, representando 56,4% do total de 39 armamentos de uso restrito retirados de circulação.
Pistola calibre .9mm, de uso restrito, apreendida com foragidos, em Itumbiara, Goiás — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Segundo especialistas, a pistola 9mm virou a "queridinha do crime". Fácil de esconder, letal em confrontos e versátil para ser adaptada — até para disparar em rajada — ela aparece em crimes de rua, roubos, sequestros e execuções.

“É a arma perfeita para o crime urbano”, resume Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz. “Fácil de modificar, difícil de rastrear.”

A disseminação dessa arma foi impulsionada por decretos do governo Bolsonaro, que flexibilizaram o acesso a armamentos até então exclusivos das forças de segurança. Em 2021, o Brasil registrou mais de 95 mil pistolas 9mm — um salto que se reflete hoje no número de apreensões e na potência bélica das quadrilhas.

Armas e entorpecentes apreendidos na operação "Acesso Negado" em Votuporanga (SP) — Foto: Polícia Civil/Divulgação

O desafio das fronteiras e o poder das facções

Para o delegado aposentado Miguel Castilho Filho, a entrada dessas armas pelas fronteiras brasileiras continua sendo o maior gargalo. “É um comércio que rende muito dinheiro. E sem estrutura de fiscalização e com uma legislação falha, fica quase impossível conter”, lamenta.

Apesar das dificuldades, Castilho vê as apreensões como sinal de que os mecanismos de repressão ainda funcionam. “É pouco, mas é um avanço. O problema é a quantidade de armas que não conseguimos tirar das ruas.”

Já Mauro Caseri, ouvidor da Polícia de SP, reforça que o foco deve ser a rastreabilidade: “Saber a origem dessas armas é essencial. Se houver envolvimento de agentes públicos, a investigação tem que ser rigorosa e imparcial”.

Além disso, ressalta Caseri, a preservação da vida deve ser prioridade: “Essas armas são feitas para neutralizar ameaças, mas a vida — tanto do agente quanto do civil — está acima de tudo”.

Homem foi preso após disparar arma de fogo contra PMs em Várzea Paulista (SP) — Foto: Polícia Militar/Divulgação

O tamanho da ameaça

  • Desde julho de 2023: 22 pistolas 9mm apreendidas em SP (56,4% do total de armas restritas).

  • Somente em 2024: 20 armas de uso exclusivo das forças de segurança já foram apreendidas.

  • Pico em 2021: 95.805 pistolas 9mm registradas no Brasil.

  • 39% das armas legalizadas no país hoje são pistolas 9mm.

A escalada do poder de fogo nas mãos do crime reacende o debate: como equilibrar o direito à posse com o dever do Estado de proteger a população?

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