Fraude no INSS: Veja lista de 11 entidades investigadas por descontos indevidos em benefícios
A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram nesta quarta-feira, 23, a Operação Sem Desconto, para investigar um esquema criminoso que promoveu desvios bilionários de proventos de aposentados e pensionistas Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A operação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério da Justiça, os descontos indevidos em benefícios do INSS começaram em 2016, mas se intensificaram significativamente em 2023 e 2024. O esquema envolvia entidades de classe, como associações e sindicatos, que formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. Esses acordos permitiam o desconto em folha dos beneficiários para o pagamento de mensalidades associativas.
Fraudes nas Autorizações
A legislação exige autorização expressa e individual dos beneficiários para que os descontos sejam realizados. No entanto, as investigações da Polícia Federal apontam que essa exigência foi amplamente desrespeitada. Foram identificadas:
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Ausência de verificação rigorosa das autorizações.
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Possíveis falsificações de documentos de filiação e autorização.
Auditorias e Falta de Estrutura
Desde 2023, a CGU iniciou auditorias em 29 entidades com ACTs firmados com o INSS. Os principais achados foram:
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70% das entidades não entregaram a documentação completa.
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Muitas não tinham estrutura operacional para prestar os serviços prometidos, como auxílio funerário, descontos em medicamentos, academias, consultas e exames, e consultoria jurídica.
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A maioria dos entrevistados não havia autorizado os descontos.
Além disso, foram constatados casos em que os beneficiários estavam domiciliados em outras Unidades da Federação, dificultando o acesso aos serviços oferecidos, que, mesmo que fossem remotos, esbarravam na baixa familiaridade desse público com recursos digitais.
Entidades Alvo das Medidas Judiciais
De acordo com a CGU e o Ministério da Justiça, as seguintes entidades foram alvos de medidas judiciais, com respectivos anos de início dos convênios com o INSS:
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Ambec (2017)
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Sindnapi/FS (2014)
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AAPB (2021)
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AAPEN (antiga ABSP) (2023)
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Contag (1994)
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AAPPS Universo (2022)
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Unaspub (2022)
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Conafer (2017)
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APDAP Prev (antiga Acolher) (2022)
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ABCB/Amar Brasil (2022)
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CAAP (2022)
Manifestações das Entidades
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Ambec afirmou que não realiza captação de associados diretamente, atividade feita por empresas terceirizadas, e que, se houve fraude, também é vítima. Declarou estar colaborando com as autoridades.
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Sindnapi, presidido por Milton Cavalo e com José Ferreira da Silva ("Frei Chico"), irmão do presidente Lula, como vice-presidente, declarou apoio às investigações.
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Contag informou ter recebido diligências da operação e reafirmou seu compromisso com a legalidade e a colaboração com as apurações.
As demais entidades não se manifestaram.
Afastamento da Cúpula do INSS
A operação culminou no afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e de outros quatro integrantes da cúpula do órgão. Segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, o INSS não adotou medidas efetivas para conter as fraudes, mesmo após:
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Notícias da imprensa (desde o fim de 2023),
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Análises do TCU,
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Ações da CGU.
Mesmo ciente da situação e das denúncias recorrentes, o INSS continuou assinando ACTs mesmo após a suspensão temporária em 2019. A auditoria da CGU confirmou que o órgão não implementou controles eficazes para mitigar os riscos de descontos indevidos.