O Impacto Hídrico da Inteligência Artificial: Como o ChatGPT e Outras IAs Estão Consumindo Milhares de Litros de Água
Uma nova pesquisa das universidades de Colorado Riverside e da Texas Arlington revelou dados preocupantes sobre o impacto ambiental das inteligências artificiais generativas, como o ChatGPT.
O estudo, divulgado no final de março, destaca o alto consumo de água necessário para manter os data centers que sustentam essas tecnologias operando com eficiência.
Água, a Nova Moeda do Digital
A cada 20 a 50 perguntas feitas ao ChatGPT, estima-se que até 500 ml de água sejam utilizados — o equivalente a uma garrafinha. Esse volume é usado principalmente para resfriar os processadores que operam 24 horas por dia nos data centers. Quando a demanda envolve a geração de imagens, como as populares criações no estilo Studio Ghibli, o consumo se torna ainda mais intenso: gerar uma única imagem pode equivaler ao gasto de água de 20 comandos de texto.
Esse pico recente no uso da IA para criação de imagens levou Sam Altman, CEO da OpenAI, a comentar nas redes sociais:
“É superdivertido ver as pessoas adorando as imagens no ChatGPT, mas nossas GPUs estão derretendo. Esperamos que não demore muito. A versão gratuita do ChatGPT em breve fará três gerações por dia.”
No auge da nova tendência, a OpenAI informou que 1 milhão de novos usuários acessaram a plataforma em apenas uma hora, gerando 3 milhões de imagens em um único dia. Isso representa um consumo estimado de 75 mil litros de água — em apenas 60 minutos.
O Calor das Máquinas e o Resfriamento com Água
Especialistas explicam que o consumo hídrico não é exclusivo da OpenAI. Plataformas como Midjourney, DALL·E e outras também demandam alto poder computacional, o que gera calor e, consequentemente, a necessidade de resfriamento com água.
Segundo Fernando Moulin, professor e especialista em IA:
“Esse processamento consome uma enorme quantidade de energia, e a passagem desta energia pelos condutores e processadores gera calor. Para evitar superaquecimento, são usados trocadores de calor que utilizam água para manter a temperatura adequada dos servidores.”
Projeções Futuras: Bilhões de Metros Cúbicos
De acordo com o estudo, até 2027, a demanda global por IA pode representar entre 4,2 e 6,6 bilhões de metros cúbicos de água — o equivalente à retirada anual total de água de quatro a seis países como a Dinamarca, ou metade do Reino Unido.
Os cientistas alertam:
“A escassez de água doce é um dos desafios mais urgentes da atualidade. A IA precisa assumir responsabilidade social, dando exemplo ao lidar com sua própria pegada hídrica.”
A Falta de Transparência e o Papel das Empresas
Para o especialista Adilson Batista, a dificuldade de mensurar o real impacto ambiental das IAs está ligada à falta de transparência:
“As grandes empresas de tecnologia ainda divulgam poucos dados sobre o consumo de água e energia de seus modelos. Seria importante que adotassem políticas claras de divulgação, com relatórios regulares de seus indicadores ambientais.”
Soluções e Caminhos Possíveis
O estudo propõe algumas medidas práticas para reduzir o impacto:
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Desenvolvimento de sistemas de resfriamento mais eficientes
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Localização estratégica dos data centers em regiões frias
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Uso de tecnologias que minimizem a necessidade de água
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Treinamento e uso dos modelos de IA em horários e locais mais sustentáveis
Além disso, o relatório destaca que a pegada hídrica deve ganhar a mesma relevância que a pegada de carbono.
Enquanto a redução de carbono pode ser feita “seguindo o sol” para aproveitar a energia solar, a redução da pegada hídrica pode exigir o oposto: evitar horários de alta temperatura, quando o uso da água é menos eficiente.