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Dia Mundial da Água: Piraju, cidade com menos de 30 mil habitantes, abriga quatro usinas hidrelétricas e preserva história centenária

Dia Mundial da Água: Piraju, cidade com menos de 30 mil habitantes, abriga quatro usinas hidrelétricas e preserva história centenária

No Dia Mundial da Água, Piraju, no interior de São Paulo, se destaca pelo seu potencial hidroelétrico. Com menos de 30 mil habitantes, a cidade abriga três usinas hidrelétricas em funcionamento: Piraju, Paranapanema e Boa Vista, além de estar próxima à Usina de Jurumirim, no limite com Cerqueira César (SP).

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O Secretário de Meio Ambiente, Luiz Otávio Motta, explica o motivo de tantas usinas: “Pela velocidade da água e pelo trecho do rio que permitiu a construção de usinas. Hoje, nosso rio tem pouco mais de quatro quilômetros de leito natural; o restante do rio Paranapanema, no trecho de Piraju, está represado.”

Conforme o secretário, toda a possibilidade de construção de usinas já foi explorada. Ainda há viabilidade técnica para novas usinas, mas a cidade criou leis que impedem sua construção. A criação dessas leis foi uma demanda da população, que busca preservar o último trecho do rio com quedas naturais, principalmente porque o nome Piraju, em tupi, significa peixe-dourado.

“A principal preocupação é a manutenção das espécies de correnteza. ONGs, associações e entidades lutam contra a instalação de novas usinas para garantir que esse último trecho de queda natural do rio permaneça preservado.”

A Usina Boa Vista é uma das mais hidrelétricas mais antigas em Piraju (SP), que continua em funcionamento — Foto: Imagem cedida/Victor Leme

Usina centenária e pioneirismo elétrico

Segundo o historiador José Roberto Montagner, a Usina Monte Alegre foi a primeira a ser construída em Piraju, localizada a cinco quilômetros da cidade. Inaugurada em 1905, ela contribuiu para que a cidade tivesse luz elétrica 24 anos após a instalação da primeira iluminação pública no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

“Apenas quatro anos depois da chegada da eletricidade ao Brasil, em 1883, D. Pedro II inaugurou em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, o primeiro serviço público de iluminação pública do Brasil e da América do Sul. Na época, a eletricidade era gerada pelo vapor das caldeiras a lenha”, relembra o historiador.

Já em 1912, a Usina Boa Vista foi inaugurada em Piraju. Na época, a cidade tinha apenas quatro mil habitantes e era considerada a segunda menor do Brasil.

“Dois anos antes, a Caixa Geral de Empréstimos Fundamentais e Industriais da França levantou fundos para construir um bonde elétrico da estação ferroviária até Piraju e a zona rural, rica em café. A energia gerada pela Usina Boa Vista era, inicialmente, destinada ao bonde que circulava entre os municípios de Sarutaiá e Piraju, tornando-se os primeiros locais a contar com esse tipo de transporte em todo o território nacional”, explica Montagner.

A partir de 1913, a energia da Usina Boa Vista passou a ser utilizada também na iluminação pública que já havia sido inaugurada em 1905. No entanto, crises cafeeiras e fatores políticos impactaram os avanços tecnológicos da cidade, afetando tanto o bonde elétrico quanto a ferrovia.

“Primeiramente, o bonde elétrico deixou de existir, por volta da década de 1930. Depois, alguns anos mais tarde, a estrada de ferro Sorocabana encerrou suas atividades em 1965”, relembra o historiador.

Anos depois, a região de Piraju inaugurou mais duas usinas: a Usina Paranapanema, que começou a operar em dezembro de 1956 e foi um dos motivos para a Usina de Monte Alegre reduzir sua produção, por ser de maior porte; e a Usina de Piraju, inaugurada em setembro de 2002.

Em Piraju há quatro usinas hidrelétricas, sendo que três continuam em funcionamento em grande escala — Foto: Imagem cedida/Acervo Municipal

Energia limpa e renovável

Considerada uma das principais fontes de energia, a hidrelétrica representa quase a metade da produção de energia no Brasil, com 45% da quantidade, seguida da energia solar (22%), eólica (13%) e outras (20%), segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

“Uma usina hidrelétrica transforma a energia cinética (força a partir do movimento) da água em energia elétrica. Utiliza as barragens para acumular água, que é canalizada para turbinas que acionam geradores”, afirma Luiz Otávio Motta, secretário do Meio Ambiente de Piraju.

Desta forma, a hidrelétrica é uma fonte de energia limpa e renovável, que não depende de combustíveis fósseis. Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o Brasil possui diversos empreendimentos no setor hidrelétrico, classificados em três tipos:

  • Central Geradora Hidrelétrica (CGH): menor capacidade de geração;

  • Pequena Central Hidrelétrica (PCH);

  • Usina Hidrelétrica (UHE): maior capacidade produtiva de energia.

Piraju carrega consigo não apenas a força das águas do Paranapanema, mas também a memória viva de um pioneirismo que marcou a história do país.

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